A viagem do sapinho.

Quando percebeu que teria que acompanhar a cegonha até aos rochedos marítimos, o sorriso do sapinho desapareceu e deu lugar a uma cara de preocupação.

Só tinha chegado até à cegonha com a ajuda da raposa e da doninha e não queria abandoná-las.

Percebendo o que o sapinho estava a pensar, sorriram-lhe e disseram-lhe:
“Sabes sapinho, às vezes para encontrarmos aquilo que queremos, temos que conhecer coisas novas”, disse a doninha-anã.

“Sim, olha eu nunca teria arranjado amigos se não tivesse mudado a minha atitude”, disse a raposa.

O sapinho continuava apreensivo e a cegonha estava a ficar com pressa.

“Sapinho, não te preocupes, vamos estar aqui à tua espera quando nos vieres apresentar a tua sapinha. Assim, aproveitas e fazes uns diazinhos de praia”, gracejou a raposa.

A cegonha que já tinha tudo pronto disse: “Sapinho, é agora ou nunca. Prometo que te trato bem. Precisas de apanhar ar novo e fresco para abrires espaço para o amor. Nada melhor que uma aventura. Vá lá, anda”.

A jovem cegonha já tinha as rosas no bico e estava nas costas do seu pai. As rosas faziam com que parecesse que tinha o cabelo cor-de-rosa.

O sapinho olhou para os seus amigos, encheu-se de coragem, e saltou para as costas da cegonha, que rapidamente deu às asas.

Enquanto viam o seu amiguinho a levantar voo, a raposa e a doninha despediram-se com um acenar muito feliz. Estavam muito orgulhosas com a coragem do seu novo amigo. Para além disso, a cegonha-pai ficava muito engraçada com as rosas no cabelo.

Quanto mais alto voava, mais assustado estava o sapinho. A cegonha tentava descansá-lo e acabou por conseguir.

O medo do sapinho transformou-se em entusiasmo à medida que pensava na sapinha que poderia encontrar, mas também nas aventuras que ia viver, nas coisas novas que ia ver e no que ia aprender. O sapinho adorava aprender.

Perdido nos seus pensamentos, apercebeu-se de que a cegonha estava a falar consigo. “Pois é, sapinho. O amor não é fácil de encontrar. Mas as aventuras ajudam-te a crescer. Vais ver que, quando menos esperares, vai aparecer uma sapinha que te encha o coração. Até lá, tenta aproveitar a viagem e divertir-te”.

O sapinho estava feliz com a decisão de partir para a aventura, “Sim, nunca fui à praia. Não conheço lá ninguém. Mas o meu pai contava histórias dos charcos que ficam lá perto. Nunca pensei em conhecê-los. Obrigado cegonha”.

Já o dia nascia, quando o sapinho viu o mar pela primeira vez. Estavam quase a chegar…. Lá ao fundo conseguia ver todos os ninhos de cegonhas que ali estavam.

“Vou deixar-te na floresta junto à praia e perto do nosso ninho. Aqui toda a gente nos conhece por isso, se precisares de alguma coisa, só tens que perguntar pela cegonha da floresta.”

O sapinho assentiu com a cabeça e desceu do dorso da cegonha. “Obrigada cegonha. Foi uma ótima viagem. Vou dar uma volta, conhecer a área e descansar. Até já.”

“Espera! Não te esqueças das tuas rosas”, disse a jovem cegonha, pousando-as no chão.

“Mas eu não consigo carregá-las” disse o sapinho.

“Deixa-las aqui para que saibas sempre para onde voltar, ficam a marcar o nosso ponto de encontro, o que achas?” disse a cegonha grande.

O sapinho concordou e ficou a observar as suas amigas cegonhas a irem ter com os seus familiares.

Depois de os perder de vista, respirou fundo e decidiu partir para a sua aventura nos charcos da floresta.

Já tinha andado muito quando percebeu que estava na direção errada. Tinha chegado à praia. Já que ali estava, pensou em saltitar um bocadinho à beira-mar.

De repente, começou a ver muitos animais pequeninos a correr junto ao mar. Fugiam das ondas quando elas vinham, mas corriam na sua direção quando elas iam embora. Ficou um pouco confuso e decidiu perguntar a um dos animaizinhos que ali passava. Estava um pouco assustado porque os animais tinham umas “pinças” nos braços que abriam e fechavam.

“Olá, sou o sapinho da floresta. Quem são vocês e o que estão aqui a fazer?”

Teve a sorte de falar com um animalzinho muito simpático, “Olá sapinho da floresta. Que fazes aqui tão longe de casa? Os charcos são para o outro lado. Nós somos os caranguejos-das-rochas-marmoreados. Vivemos ali naquelas rochas lá ao fundo”, disse enquanto apontava para o horizonte.

O sapinho ficou feliz com a simpatia e respondeu “As vossas rochas são muito bonitas. E essas pinças que vocês têm, para que servem?”.

O caranguejo fez uma cara surpreendida e respondeu, “Servem para nos alimentarmos e para nos conseguirmos agarrar às rochas, quando vamos para casa. E tu, sapinho, como vieste parar aqui?”

“Vim com a cegonha. Estava à procura de uma sapinha que me enchesse o coração. Como não a encontrei, decidi fazer uma viagem e conhecer coisas novas, para ver se me distraía.”, disse o sapinho.

“Fizeste bem. Aqui na praia, não costumo ver muitas sapinhas. Mas, apesar do amor ser importante, nós aqui divertimo-nos muito com os nossos amigos. Queres vir apanhar umas ondas?” respondeu o caranguejo.

O sapinho sorriu e o caranguejo entendeu que se iam divertir muito. Correram, correram e o sapinho conheceu muitos amiguinhos novos que, apesar de nada terem a ver consigo, o tratavam muito bem. Durante o dia, não voltou a pensar na sua sapinha.

Quando começou a cair a noite, o sapinho achou que deveria voltar para junto das rosas. Assim, despediu-se dos seus amigos e seguiu caminho para a zona da floresta. Ouviu muitos sons que nunca tinha ouvido e sentiu muitos cheiros que nunca tinha sentido. Estava cansado, mas feliz.

Ao chegar junto das rosas, apercebeu-se que faltava uma. Ficou intrigado sem conseguir perceber quem poderia ter levado uma das suas flores.

Olhou-as com atenção e reparou numa pequena joaninha que estava poisada numa delas.

“Olá joaninha, eu sou o sapinho e estas rosas são minhas. Vim de muito longe e trouxe-as para entregar a alguém que me deixasse tonto de tanto amor. Mas agora estou tonto porque me roubaram uma delas. Viste alguém aqui a pairar?”

A joaninha era muito pequenina e ficou muito surpreendida por o sapinho ter reparado nela. Era muito sensível e falava muito baixinho, mas notou que o sapinho estava atrapalhado e disse, “Olá Sapinho, eu sou a joaninha. Posso garantir-te que não fui eu que te roubei a rosa. Eu só gosto do cheirinho das flores. Não estou aqui há muito tempo e por isso, não vi ninguém.”

A joaninha fez uma pausa e o sapinho reparou que ela não lhe estava a contar tudo.

“Joaninha, não faz mal. Trouxe aquelas flores de muito longe, só por isso fiquei triste. E como dizem que dás sorte, pensei que talvez pudesses saber alguma coisa.”.

Ao ver o sapinho ser tão sensato, a Joaninha decidiu prendá-lo com um pouquinho da sua sorte. “Sabes sapinho, há muitos charcos aqui à volta e muitos sapinhos como tu. Não podes dizer que fui eu que te disse, mas há uma sapinha que adora flores. Anda sempre de um lado para o outro a tentar descobrir todas as flores do mundo. Talvez tenha sido ela… Apesar de não ter a certeza, é como te digo, ela adora flores.”

O sapinho ficou surpreendido com a bondade da joaninha, mas ao contrário do que achava, sentia-se triste por lhe terem roubado a rosa. Mesmo que tivesse sido uma sapinha.

“Obrigado joaninha. Amanhã vou procurar a sapinha que me roubou as flores e dizer-lhe das boas. Isso não se faz.”, disse o sapinho.

A joaninha abriu as asas e preparou-se para voar, “Vai com cuidado sapinho. As rosas são realmente muito belas por isso é normal que toda a gente as queira.”

O sapinho assentiu e despediu-se da joaninha. Estava cansado e com a cabeça a andar à volta. Estava curioso com a ladra sapinha. Queria dizer-lhe que as flores estavam guardadas para alguém especial. Por outro lado, estava entusiasmado com o que o dia lhe reservava, conhecer muitos charcos com muitos sapinhos. No meio de todos estes pensamentos, adormeceu profundamente e sonhou com as brincadeiras e aventuras que ainda ia viver.

Quais serão as aventuras do sapinho para encontrar a sua flor roubada? Será que vai conhecer novos animais e dar-se bem com os novos sapinhos? Como vai reagir a sapinha quando conhecer o dono das rosas? Descobre tudo no próximo post, dia 02 de setembro, aqui no blog Dá a Mão à Floresta.

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