Quando o sol começou a mostrar os seus primeiros raios tímidos por entre as nuvens, o ratinho despertou.
Foi o primeiro a acordar. Todos descansavam e apenas se ouviam os passarinhos da floresta. Enquanto a cabra-montês ressonava e a marta falava nos seus sonhos, o ratinho pensava em tudo aquilo que tinham passado e sentia-se realmente orgulhoso daquele grupo.
Aos poucos, todos começaram a despertar. A toupeira foi, claro, a última a acordar. E todos os animais acharam muito divertido o seu mau-humor matinal.
A codorniz contou histórias hilariantes de outros grupos de animais que já tinham ido à procura da “Lenda do Ninho de Codorniz”. Muitos tinham sido aqueles que por ali já tinham passado a mando do sapinho.
“É verdade. O sapinho começou por fazer isto por brincadeira. Só mais tarde é que percebeu que esta viagem era muito enriquecedora para os animais da floresta. De vez em quando recebo grandes grupos como o vosso”.
“Mas o nosso é o melhor, não é?” disse a cabra-montês divertida.
“Todos são muito engraçados, por serem tão diferentes.” Respondeu a codorniz.
“O importante é que tenham aprendido muitas coisas nesta viagem e que fiquem amigos dos animais que foram conhecendo pelo caminho. Já sabem o que vão fazer depois disto?” Perguntou.
Esta questão apanhou todos os animais da floresta desprevenidos. Ainda não tinham tido tempo de pensar nisso. De repente, ficou um silêncio profundo.
Mas a toupeira estava de mau-humor por ter sido a última a acordar e disse:
“Mas estás a mandar-nos embora codorniz? Por mim, arrancamos agora e não nos vês mais”.
Todos os animais olharam uns para os outros e riram descontroladamente. Depois de perceber que tinha feito uma figura ridícula, a toupeira riu-se e a boa-disposição voltou.
“Vocês ficam o tempo que quiserem” disse a codorniz, que não tinha percebido bem o que se tinha passado.
Mas, no fundo, os animais sabiam que não podiam alongar-se muito mais. A grande viagem tinha sido muito enriquecedora, mas estava na altura de voltarem à sua vida normal.
O ratinho que esteve em silêncio toda a manhã, estava um pouco preocupado.
Sentia que todos os outros animais tinham planos, menos ele.
Mas o veado-vermelho reparou que se passava algo e perguntou-lhe:
“Ratinho, estás bem? Não dizes nada?”
“Estou bem. Estou só a pensar no que poderei fazer daqui para a frente. Nunca tinha tido tantos amigos como vocês e agora todos vão embora”. Respondeu o ratinho.
O veado-vermelho percebeu o que o ratinho lhe estava a dizer, porque conseguia entender o que este estava a sentir.
“Não sei o que te diga ratinho. Não é por nos separarmos que vamos deixar de ser amigos. Tu tens muito valor. Se não fosses tu, nunca tínhamos chegado até aqui. Ajudaste a cabra-montês…” o veado-vermelho foi interrompido pela marta, que percebeu o que se passava.
“E não fizeste só isso. Conseguiste evitar que discutíssemos. Se não fosses tu, nunca tínhamos chegado até aqui.” Continuou a marta.
“Sim. E graças a ti mantivemo-nos todos unidos, seguimos as direções certas e chegámos à lenda… quer dizer, apesar de a lenda ser a viagem…” disse a toupeira.
O ratinho gostou muito de ouvir as palavras dos seus amigos. Enchiam-lhe o coração.
“Têm razão.” Disse o ratinho. “A verdade é que aprendi muito e estou grato por ter feito esta viagem convosco. Claro que as despedidas vão ser complicadas, mas sei que nos vamos cruzar por aí.” Terminou.
“Exatamente ratinho. É esse o ensinamento que tens que levar. Foste um corajoso e fizeste muitos amigos. Quem sabe a tua coragem não vai inspirar outros animais da floresta?” disse a sábia codorniz.
Todos sorriam. E depois de alguns minutos em silêncio, as irmãs cabras-montês chegaram-se à frente. Era hora de ir embora.
“Ainda temos algumas horas de viagem e por isso é melhor partirmos enquanto o sol brilha.” Disse uma delas.
As despedidas começaram e o ratinho foi para junto da codorniz enquanto os animais se despediam uns dos outros. Um a um foram dizendo adeus e partindo para novas aventuras.
Depois das cabras-montês, foi a vez da marta, do veado-vermelho e, por fim, da toupeira que pediu, mais uma vez, desculpa pelo seu mau-humor à codorniz.
“Não te preocupes, toupeira. É normal que acordes mal-humorada por causa do cansaço. Vê se o teu mau-humor não te causa sarilhos um destes dias…” disse a codorniz.
“Tens razão, tenho que me controlar um pouco, de manhã.” Respondeu a toupeira.
“Adeus codorniz. Ratinho, tens a certeza de que não queres vir comigo?” Perguntou a toupeira, uma última vez.
O ratinho não parecia seguro de nada naquele momento, mas encheu o peito e respondeu com certeza:
“O que este caminho me ensinou é que devemos confiar nos nossos instintos e eu sinto que, para já, o meu lugar é aqui.”
A toupeira assentiu orgulhosa do seu pequeno amigo. Despediu-se uma vez mais e seguiu caminho.
A codorniz olhou com compaixão para o ratinho acreditando que, em breve, iria dar um novo rumo à sua vida. Mas estava com muito sono. Tinham sido muitas conversas e perguntas para a velha codorniz.
“Importas-te que vá descansar um pouco? Preciso de dormir uma sesta.” Perguntou a codorniz.
“É claro que não. Eu vou dar uma volta nas redondezas, para aproveitar o final de tarde.” Respondeu o ratinho.
Quando olhou novamente para a codorniz já esta ressonava. O seu ressonar era muito esquisito porque era semelhante ao canto de um pássaro e o ratinho pensou que nunca tinha ouvido nada assim.
Estava perdido nos seus pensamentos, quando ouviu um barulho vindo da floresta. Pareciam vozes. Mas também podia ser o vento.
O ratinho decidiu não ligar e ir ver o que existia ali à volta, já que nunca tinha estado tão longe de casa.
Já estava quase a ir embora quando percebeu que o barulho não era o vento. Eram mesmo vozes. E aproximavam-se a uma grande velocidade. Antes que conseguisse subir a outra árvore para espreitar, sentiu o arbusto abanar e deu de caras com um texugo e uma lebre. O ratinho nunca tinha visto um texugo, mas já tinha ouvido falar.
Tanto a lebre como o texugo estavam muito surpreendidos por verem um ratinho tão pequeno, ali, junto ao ninho de codorniz.
A lebre, que era mais entusiasta do que o texugo, começou a saltar e a falar muito depressa.
“Olá. Eu sou a lebre e este é o texugo. O sapinho pediu-nos para procurarmos a Lenda do Ninho de Codorniz. Tu quem és? Conheces a codorniz? Nós nem éramos para vir, mas como estamos a caminho da casa do papa-figos que nos convidou para a sua festa de aniversário, decidimos procurar e passar por aqui. Queres vir à festa de anos dele? É muito meu amigo e de certeza que não se vai importar que nos acompanhes” … a lebre só parou de falar quando o texugo a interrompeu.
“Calma lebre. Deixa o ratinho respirar. Olá. Eu sou o texugo. A lebre está muito entusiasmada. E eu em conversa com o sapinho decidi mostrar-lhe onde ficava o ninho de codorniz. Se estás aqui, com certeza, conheces a lenda.” Afirmou o texugo.
O ratinho sorriu e acenou. Estava entusiasmado, mas cansado da energia da lebre.
“Chegaram ao ninho de codorniz, sim, mas ela está a descansar. O meu grupo de amigos foi embora hoje de manhã e eu decidi ficar mais um dia.” Respondeu o ratinho.
“De onde és? Com quem vieste? Há quanto tempo chegaste? Para onde vais a seguir? O que mais gostas de fazer?” perguntava a lebre com demasiada energia.
A energia da lebre era contagiante e fazia o ratinho sorrir.
Antes de responder trocou um olhar com o texugo, também ele muito simpático e educado.
De repente, sentiu-se calmo e com um objetivo. Tudo parecia fazer sentido.
O que achas que pensou o ratinho? Será que vai ficar a ajudar a codorniz ou vai partir com os seus novos amigos? Qual será o seu novo objetivo? Descobre a resposta estas e outras perguntas no próximo post, dia 7 de julho, no blog Dá a Mão à Floresta.