A NOVA VIDA DO SAPINHO

Uma bicada bem dada no alto da cabeça do sapinho acordou-o do seu maravilhoso sonho. “Acorda, preguiçoso! Olha que o sol já está bem alto, podes apanhar um escaldão!”, disse a jovem cegonha, divertida.

O sapinho espreguiçou-se e sentia-se renovado, como se fosse um sapinho completamente novo.

“Chamavam-me sábio, mas eu não sabia nada! Passei a vida toda nos mesmos charcos, mas existe um mundo novo para explorar! Sábias são vocês, as cegonhas, que têm asas e podem voar para conhecer todos os sítios do mundo!”, exclamou o sapinho, com um brilho especial no olhar, para a família de cegonhas que o rodeava.

“Gosto muito de te ver assim, bem-disposto! Ora, nós vamos dar mais um passeio por aqui, e ao fim da tarde temos que voltar para o nosso ninho. Viemos avisar-te para que aproveites bem o resto da tarde, uma vez que tens que voltar connosco.”, disse a cegonha mãe.

O sapinho disse que não se preocupassem e marcou o ponto de encontro no mesmo local, ao pôr-do-sol.

Assim que a família se afastou, o sapinho olhou o mar e ficou imóvel durante uns minutos. Nunca tinha visto tanta água junta! Pensou no que existiria do outro lado daquele grande oceano.

“Imagino que sapinhos haverá, lá na outra margem! Talvez sejam gigantes, talvez tenham asas! Não, já estou a exagerar… Sapinhos com asas não existem de certeza. Mas deve haver todo o tipo de animais curiosos, como aquela raposa simpática que ficou amiga de uma doninha! Quem diria…”

O pensamento do sapinho foi interrompido de súbito por um “ai, ai” de dor, atrás de si. Era uma sapinha, agarrada à pata. Tinha tentado levar uma rosa do ramo e picou-se nos espinhos.

“Olha, afinal encontrei-te mais cedo que esperava! Sabias que tirar coisas que não são tuas é muito feio?”

A sapinha, magoada na pata, não conseguiu fugir, mas escondeu-se envergonhada atrás das rosas.

O sapinho parou então e pensou: “Ela fez mesmo um golpe na pata, nem consegue apoiá-la no chão…”

O mar batia nas rochas, lá em baixo na praia, e o vento tinha o mesmo cheiro que aqueles amiguinhos que tinha feito no dia anterior, chamados caranguejos. Eles eram despreocupados e não ligavam às coisas más, só às boas.

“Deixa-me ver a tua ferida. Eu, lá no sítio de onde venho, era o primeiro animal que procuravam quando algo corria mal. Por causa disso, sou muito bom a fazer curativos. Anda, não te vou fazer mal.”, disse o sapinho, enquanto se aproximava lentamente.

A sapinha hesitou, mas acabou por confiar. A ferida não era grave e o sapinho depressa lhe fez um excelente curativo. Dentro de dois dias já devia conseguir andar bem, dizia o sapinho, concentrado no que estava a fazer.

A sapinha conhecia muitos sapinhos, mas nenhum como aquele. Os sapinhos geralmente só se preocupam em cantar bem, mas nenhum era atencioso e culto como aquele. Ainda o sapinho não tinha acabado o curativo e já estava apaixonada.

“Não sei como te agradecer, eu tirei as tuas flores e tu foste tão gentil comigo na mesma!”, disse a sapinha, quebrando o silêncio.

“Deixa lá, não faz mal. Nesta viagem eu acabei por perceber que cantar bem não é o que importa. O que é importante é a bondade e a amizade. O resto vem por acréscimo…”

A sapinha não quis deixar o sapinho terminar a frase e pediu-lhe para que a ajudasse a ir até à praia, pois queria ver o mar.

Durante a caminhada o sapinho contou tudo sobre a sua aventura e muitas outras coisas. Os sapinhos riram, passearam, e ficaram a conhecer-se muito bem. Ela tinha as verrugas mais bonitas que ele já tinha visto.

Ao pôr-do-sol, as cegonhas apareceram no local combinado mas o sapinho não estava lá.

“Onde andará o sapinho? Será que está bem?”, perguntaram as cegonhas, preocupadas. Deram uma volta nos arredores e chamaram por ele: “Sapinho! Sapinho!”, mas ele não estava em lado nenhum.

Enquanto se questionavam sobre o que fazer, as cegonhas avistaram o sapinho, acompanhado da sapinha.

“Desculpem a demora, distrai-me com as horas…ah, e esta é a sapinha!”

A cegonha mãe respondeu, com um sorriso: “Bem vejo! Olá sapinha! Então, vens connosco?”.

“Não cegonha, obrigado…mas eu também vou ficar por aqui. Descobri que a minha vida não se tem que prender ao mesmo charco. Vamos viajar juntos, eu e a sapinha, mal se recupere!”, respondeu o sapinho, abraçando a sapinha. As cegonhas ficaram contentes pelo sapinho e desejaram-lhe a maior sorte nas suas novas aventuras, com a sapinha que tanto desejava. Ao despedirem-se, o sapinho pediu que a cegonha levasse um recado à raposa. Segredou-lhe o recado ao ouvido, sem mais ninguém ouvir, e a cegonha disse lhe que iria procurar a raposa mal chegasse. As aves e os sapinhos deram um abraço de despedida e a família de cegonhas voou até se perderem de vista, naquela noite estrelada.

Que recado terá o sapinho deixado à raposa? E que aventuras estarão reservadas aos nossos amigos? Descobre tudo no próximo post, dia 3, aqui no blog Dá a Mão à Floresta.

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