Depois de os convidar a conhecer a codorniz, o ratinho esteve a conversar com os seus novos amigos, que tinham tanto para contar.
A lebre era divertida e tinha muita energia, enquanto que o texugo era mais sábio e calado, mas muito educado. O ratinho gostava de pessoas educadas.
E a verdade é que a lebre era mais novinha, e por vezes entusiasmava-se, não deixando ninguém falar.
Tinham passado dois dias desde que os seus novos amigos tinham chegado à Lenda do Ninho de Codorniz, e estava na hora de partirem.
Quando ficaram sozinhos o ratinho, como estava num dilema, pediu ajuda à codorniz:
“Codorniz, achas que eu devia continuar a viagem com eles?” perguntou o ratinho cabisbaixo.
“Não quero que pensem que estou a ser chato, mas sinto que ainda tenho tanto para ver e aprender. Tantos animais para conhecer e aventuras para viver.” Continuou o ratinho em tom de preocupação.
A codorniz estava a demorar algum tempo a responder e o ratinho começou a ficar impaciente, mas quando olhou para ela, reparou que esta estava a ressonar e fartou-se de rir.
Ao perceber que a codorniz não tinha ouvido o que disse, o ratinho percebeu que a decisão teria que ser sua. E foi quando estava perdido nos seus pensamentos que começou a ouvir a lebre a rir. Ela e o texugo tinham chegado do passeio e estavam a começar a preparar-se para seguirem viagem.
O ratinho decidiu perder a vergonha e disse em alto e bom som:
“Gostava de ir viajar convosco. Se quiserem e acharem que o papa-figos não se importa que eu vá à sua festa de anos. Sinto que ainda tenho muitas aventuras à minha espera!”
A lebre olhou entusiasmada para o texugo que sorriu com a calma que o caracterizava. Após este breve olhar, o texugo disse:
“Ratinho, que bom teres perguntado isso, porque íamos convidar-te para te juntares a nós. Faz-nos falta um companheiro de viagem e gostámos logo muito de ti. Aliás, a lebre já te queria convidar desde ontem, eu é que não sabia se querias vir.”
“Sim, o papa-figos vai adorar-te e tu também vais gostar muito dele pois é divertido e amigo. E os amigos dele são super simpáticos. No caminho vamos cantar canções e até podes vir às minhas costas, se quiseres…” disse a lebre, visivelmente entusiasmada.
A lebre adorava animais da floresta!
“Que bom! Quando partimos?” perguntou o ratinho.
“Quem é que partiu o quê?” interrompeu a codorniz, que não estava a perceber nada. Tinha acabado de acordar.
Todos riram muito. O ambiente estava ótimo.
“Vamos partir, codorniz. Obrigado pela tua hospitalidade, mas chegou a hora de irmos andando. Ainda temos que caminhar bastante e arranjar uma prenda para o papa-figos.”
A codorniz sorriu e deu os parabéns ao ratinho, por estar prestes a embarcar numa nova jornada.
Este agradeceu. A codorniz percebeu que ele estava muito feliz.
“Lebre e texugo, vou só preparar umas coisas antes de irmos, mas depois podemos seguir.”
Todos concordaram e o ratinho lá foi…
A lebre estava tão entusiasmada que teve que ir correr um pouco para gastar energia, deixando o texugo e a codorniz a sós.
O texugo achava que a codorniz tinha adormecido novamente, mas quando olhou, esta tinha aparecido com um pequeno embrulho nas patas.
“Caro texugo, queria pedir-te um favor. Sei que a caminho da casa do papa-figos, vão passar pelo burro mirandês e eu precisava que tu lhe entregasses esta encomenda. Não te quis pedir em frente aos outros porque é um segredo, mas sei que posso confiar em ti para transportá-lo com todo o cuidado. Não posso?
“Mas o que é, codorniz?” perguntou o texugo intrigado.
“Não te posso dizer, mas é muito importante que o meu velho amigo a receba intacta. Sei que vai ficar muito agradecido depois de nos fazeres este favor.
“Mas tu sabes, codorniz, para passarmos pelo burro mirandês ainda vamos ter que fazer um grande desvio. Preciso de saber se vale mesmo a pena…”
“Tudo bem, texugo, mas preciso que mantenhas este segredo entre nós. É muito importante que o burro escolha se quer ou não partilhar isto com mais alguém, prometes?” questionou a codorniz.
“Claro” respondeu o texugo, ansioso.
“Então é assim, há muitos anos, o burro mirandês veio visitar-me, em busca da Lenda do Ninho de Codorniz. Nós demo-nos muito bem. E eu fiquei de lhe enviar uma pequena lembrança.” Disse a codorniz.
“Então, mas o que é que isso tem de tão especial?” o texugo não estava a perceber.
“Entre mim e o burro, existe uma enorme amizade. Baseada em muito respeito, mas também em muitas partidas e travessuras. E eu estou há anos para lhe fazer esta partida. Tenho a certeza de que ele vai ficar muito feliz, mas como não quero que fique chateado, quero que seja ele a escolher se quer mostrar a alguém ou não, entendes?”
O texugo era compreensivo e sabia a importância de uma boa brincadeira entre dois amigos de longa data. Por isso, sorriu e aceitou fazer o desvio.
Estava a abrir a boca para falar quando foi interrompido pela lebre que apareceu a correr e a saltar:
“Vamos? Vamos? Vamos? Vamos? Vamos?” a lebre estava demasiado entusiasmada.
Ao mesmo tempo apareceu o ratinho e todos falavam ao mesmo tempo, decidindo se iam embora ou não.
Estava muito barulho e confusão, até que a codorniz falou mais alto:
“Vamos lá, chegou a altura de irem” disse firme.
Todos se calaram e ficaram sérios a olhar para ela. Estavam confusos, pois acharam que a codorniz estava chateada.
“O texugo estava à vossa espera para seguirem viagem e eu estou ansiosa que vão, para dormir em silêncio” disse, visivelmente cansada.
Todos riram porque perceberam que a codorniz era uma preguiçosa e queria descansar.
Depois de uma longa despedida, o ratinho subiu para as costas da lebre e iniciaram a viagem. O texugo informou-os de que teriam de fazer uma paragem, pois queria ver o burro mirandês. Ambos acharam aquilo estranho, mas estavam tão entusiasmados que decidiram não ligar.
A lebre começou a cantar e o texugo e o ratinho acompanharam, enquanto o sol se punha.
Avizinhava-se o início de uma jornada muito divertida.
O que será que a codorniz enviou para o burro mirandês? Que aventuras vão viver os animais durante esta viagem? Será que o ratinho tomou a decisão certa?