UM PEQUENO RATINHO, UMA GRANDE DIFERENÇA

“Alto e pára o baile!” – gritou uma “voz” que não se sabia bem de onde vinha.

“Em vez de lutarem, porque não formam uma equipa? Lembrem-se que sozinhos vão mais rápido, mas juntos chegam mais longe. Já pensaram que ao apoiar-se mutuamente podem estar a chegar a um objetivo comum?” continuou a “voz”.

O clima de tensão entre o veado-vermelho e a cabra-montês pareceu desaparecer um pouco, pois procuravam a origem desta voz firme.

Também a raposa e a toupeira estavam curiosas em relação ao autor destas palavras.

Após um breve silêncio, a “voz” voltou a fazer-se ouvir: “Cabra-montês, estes animais vieram de longe, com uma missão. Há quanto tempo esperavas que te aparecessem alguns animais para mostrares a beleza das montanhas? E tu, veado-vermelho, que és amigável e calmo, porque desafias a cabra-montês quando sabes que sem a sua ajuda não cumprirão o vosso objetivo?”

A toupeira e a raposa olhavam uma para a outra surpresas, concordando com as palavras deste desconhecido. Nesse momento, a raposa teve uma ideia e arregalou os olhos: “toupeira, tu e o teu excelente faro, podiam tentar encontrar este desconhecido”.

Mas a “voz” ainda não tinha terminado a sua mensagem, apesar de se perceber que os animais estavam bastante mais calmos: “vamos lá, façam as pazes. Juntem-se e consigam um objetivo comum. Terei todo o gosto em ajudar-vos durante esta missão. Coragem e vontade não me faltam”.

A cabra-montês decidiu dar o primeiro passo e pedir desculpa aos restantes animais.

“Sabem, às vezes fico muito tempo sem receber visitas e depois não sei reagir quando outros animais aparecem. Desculpem. Na verdade, não há motivo nenhum para não vos deixar subir às montanhas, são animais como eu, e sei que só querem o bem da floresta. Quero ouvir tudo sobre a vossa missão.”

O veado-vermelho sorriu e ambos fizeram um cumprimento com as suas hastes.

Por momentos, quase todos se esqueceram da voz firme que os tinha ajudado a encontrar a razão.

Seguro de si e bastante mais tranquilo, o veado-vermelho olhou para a raposa e para a toupeira procurando a sua aprovação, mas ao olhar, só viu a raposa. Isso deixou-o confuso.

“Onde está a Toupeira?” perguntou.

Estava a raposa a sorrir quando de repente se ouviu um grito estridente. Uma mistura de susto com surpresa.

Era a toupeira: “Encontrei-o. Venham cá, não vão acreditar.”

Os animais ficaram alerta e dirigiram-se em direção à toupeira. Quando estavam a chegar, todos recuaram, pois, no chão, viram uma grande sombra. Assustados, olharam uns para os outros hesitando.

A toupeira, que parecia descontraída, ria-se enquanto olhava para os seus amiguinhos animais: “Não se assustem, podem vir, eu estou aqui, não estou?”

Cautelosamente, os amigos foram avançando para perceberem que animal era aquele que os tinha ajudado a resolver um conflito de forma tão fácil e clara.

À medida que se iam aproximando, a sombra ia diminuindo, até que chegaram junto da toupeira. Olharam ao seu redor e nada viam.

“Então toupeira, estás a brincar connosco?” perguntou a raposa confusa.

De repente, começaram a ouvir um grito vindo do solo e a sentir algum movimento. Os gritos eram baixinhos e mal se ouviam, mas todos os animais olharam para o chão.

Lá em baixo, estava o ratinho-do-campo a acenar e a saltar, dizendo olá.

Todos eles, exceto a toupeira, olharam uns para os outros não acreditando no que estavam a ver.

“Não pode ser” disse a cabra-montês. “Como é que alguém do teu tamanho pode ter falado tão alto?”.

O ratinho-do-campo sorriu, orgulhoso, e começou a falar. Mas os animais estavam cada vez mais confusos porque estavam a ouvi-lo muito baixinho.

A raposa, que estava abananada, pegou no ratinho-do-campo e colocou-o nas suas costas para que todos pudessem ouvir o seu discurso.

“Olá amigos animais. Eu sou o ratinho-do-campo. Sei que se calhar estão confusos, e peço desculpa por me ter metido na vossa discussão, mas não gosto de ver animais a discutir. Todos queremos o bem da floresta.”

Os animais trocaram olhares que demonstravam o seu arrependimento por terem quase andado à luta por uma parvoíce.

E o ratinho-do-campo continuou: “Eu sou um animal pequeno e ao longo do tempo, fui aprendendo que em todas as missões, é importante levarmos amigos de confiança. Tenho aprendido boas lições e sei que a vida me leva sempre em direção a animais com bons valores de amizade.”

“Ainda tenho um longo caminho para percorrer, mas quando me cruzo com outros animais não posso deixar de falar e de me apresentar, e quando vos vi, percebi que tinha que fazer alguma coisa para não discutirem.” terminou o ratinho.

Todos os animais o escutaram com atenção e aí, a raposa tomou as rédeas da conversa. “Ratinho, muito obrigado por nos teres ajudado. Cabra-montês, a verdade é que precisamos da tua ajuda para descobrirmos a lenda do ninho de codorniz. Sem ti, vai ser muito complicado.

Notava-se a emoção e entusiasmo da raposa, enquanto falava. “Foi o meu amigo sapinho que me ajudou e disse que eu tinha que vir nesta missão…” a raposa foi interrompida pela cabra-montês.

“O sapinho-de-verrugas-verdes?” perguntou a cabra-montês, bem alto, para espanto dos outros animais.

“Conheces?” perguntou a toupeira.

“Eu e o sapinho somos velhos amigos. Porque não disseram logo que o conheciam? Realmente, aquele sapinho, nunca faz nada por acaso.” Continuou a cabra-montês.

O veado-vermelho estava entusiasmado e decidiu não perder mais tempo: “agora que somos todos amigos, vamos descobrir a lenda?”

A cabra-montês fez um ar pensativo. Parecia estar a decidir se queria embarcar nesta missão ou não. Mas, no fundo, sabia que ia com os seus novos amigos. Nunca tinha virado costas a uma boa aventura.

“Sim. Vamos. Mas antes, temos de nos preparar bem. Subir a montanha parece fácil, mas não é. Temos de estar preparados para o clima, para o tipo de solo e para o tipo de vegetação. Sugiro que descansemos o resto do dia e que amanhã, bem cedo, continuemos viagem para o topo da montanha. Só aí vamos conseguir perceber em qual dos cumes se encontra o ninho de codorniz.”

“Dizem que a sua construção é tão perfeita que nenhum animal foi capaz de imitar” participou o ratinho, desta vez em alto e bom som.

Os animais olharam e riram muito quando perceberam que o ratinho tinha usado uma grande folha para projetar a voz. Era assim que tinha conseguido chamar a atenção dos animais, anteriormente.

“Eu sou pequeno, mas não sou maluco” respondeu o ratinho com boa-disposição.

A raposa, que já tinha percebido que o ratinho poderia ser uma boa aquisição a esta improvável equipa, perguntou: “Ratinho, pelo que percebo, sabes muito sobre a vida. Queres juntar-te a nós? Penso que nos poderíamos dar bem. E tal como disseste, juntos vamos mais longe”.

O ratinho queria há muito tempo fazer parte de uma equipa e não hesitou em juntar-se a todos aqueles animais muito maiores do que ele. Já ouvira falar da lenda do ninho de codorniz e não podia perder esta oportunidade.

Todos sorriram e começaram a caminhar em direção à casa da cabra-montês. Depois de alimentados, começaram a detalhar o plano para chegar ao pico da montanha.

No meio de algumas gargalhadas, a cabra-montês ficou séria e pensativa, olhando para o horizonte.

Apenas o ratinho se apercebeu e dirigiu-se à cabra-montês: “o que se passa nova amiga? Não estás entusiasmada com esta aventura?”

A cabra-montês suspirou e respondeu: “Estou ratinho, estou.”

O ratinho não ficou convencido e questionou: “mas…?”

“Mas, ratinho, há uma coisa sobre mim que vocês não sabem. E pode influenciar a nossa chegada ao ninho de codorniz.” Respondeu a cabra-montês, apreensiva.

Qual será o segredo que guarda a cabra-montês? Como vão reagir os animais ao descobrir este segredo? Será que os vai impedir de cumprir o seu objetivo? Descobre a resposta a todas as perguntas no próximo post, dia 7 de abril, aqui no blog Dá a Mão à Floresta.

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