UMA VIAGEM ATRIBULADA

“Aqui vamos nós,
Muito animados.
Aqui vamos nós,
Entusiasmados,

P’ra festa do papa-figos,
Rever os nossos amigos!”

O ratinho, o texugo e a lebre cantarolaram músicas alegres durante todo o caminho. Para descansarem, sentaram-se numa planície no meio da floresta.

“E o que é que vamos oferecer ao papa-figos?” Relembrou o ratinho.

“Oh, essa é fácil! Figos!” Respondeu prontamente a lebre.

O texugo fez um gesto calmo com a cabeça e mostrou uma metade de um coco cheia de pequenos frutos.

“Figos e não só, lebre. Os papa-figos também comem outras frutas e ainda sementes e insetos. Pelo caminho apanhei muitos presentes para o nosso amigo.”

Os olhos da lebre brilhavam: “Uau! Ele vai adorar! Ai, se fossem cenouras! Ai, quem me dera.”

“Havemos de encontrar cenouras! Não te preo….” o ratinho deteve-se e no seu pequeno focinho lia-se medo. Muito medo.

“Ratinho? O que tens?” Perguntou a lebre.

“Parece que viu um urso.” Brincou o texugo.

O ratinho acenou com a cabeça. “S…sim. At-trás de vocês….. Eu… eu juro que o vi. E agora… escondeu-se.”

O texugo e a lebre riram.

E riram.

E riram.

E ainda se estavam a rir quando o ratinho soltou um pequeno grito agudo.

Os seus amigos olharam lentamente para trás e todos desataram a fugir. Um urso-pardo estava a persegui-los! O animal não demorou muito a alcançá-los e apanhou o ratinho, levantando-o com uma só mão.

“O que desejas, urso-pardo? Se puseres o meu amigo no chão, prometo recompensar-te!” Afirmou o texugo, ofegante, mas seguro de si.

“Desejo devorar-vos a todos!” Respondeu o urso, num tom muito sério.

Os amigos entreolharam-se, apavorados. O texugo, corajoso, continuou: “Tenho outra proposta para ti. Se não nos devorares, prometo indicar-te todos os esconderijos de mel que conheço.”

O urso começou a rir às gargalhadas. Não aguentando o riso, sentou-se no chão e rebolou a rir. Finalmente recompôs-se:

“Ouçam lá, só porque sou grande, não quer dizer que seja mau! Nunca ouviram dizer que não se deve julgar ninguém pelas aparências? Mas olhem que agora vou querer esse mel como recompensa!”

Todos ficaram calados, envergonhados. O texugo tomou a iniciativa: “Tens razão. Desculpa. Mas o que é que te fez então perseguir-nos?”

“Não vos persegui, só corri atrás de vocês até vos apanhar… Ok, já percebi. Mas é que preciso de ajuda. Acho que estou perdido! Um amigo meu faz anos e…”

“Por acaso não estás a falar de um amigo pássaro de cor amarela, não? Interveio o ratinho.

“Sim! O papa-figos! Não me digam que também vão à festa dele!”

“Claro!” Responderam os três em uníssono.

“Escrevi a morada com mel neste pedaço de madeira, mas, entretanto, não resisti e… digamos que apaguei o mel com a língua…”

“Olha, nós ajudamos-te a lá chegar, mas só se me fizeres um favor.” Pediu o ratinho, autoritário.

“O quê?”

“Põe-me no chão!” – Exclamou o ratinho, já impaciente.

Todos se riram e o ratinho fez uma pequena dança de contentamento, já em terra firme.

Os quatro recomeçaram o caminho.

Ao chegarem a um cruzamento, o texugo contou-lhes que a codorniz o tinha encarregado de realizar um pequeno desvio, para ir ao encontro do burro-mirandês. Os amigos não compreenderam bem, mas não questionaram o texugo, pois tinham toda a confiança nele.

Passaram a noite num bosque repleto de alimentos deliciosos e, de manhã, continuaram o seu caminho.

“Éramos apenas três,
Agora juntou-se um amigo.
Aguarda-nos, burro-mirandês,
Vamos agora ter contigo.”

“Já estamos perto.” Anunciou o texugo. “Ele costuma estar ali, junto àquela árvore de copa gigante.”

E lá estava ele. Contente, recebeu os quatro amigos que o tinham vindo visitar.

“Ora, bem-vindos! A que se deve esta visita?” – Perguntou o burro-mirandês, de sorriso rasgado.

A lebre e o ratinho fingiram ter algo para fazer. A lebre disse ir à procura de cenouras, o ratinho juntou-se a ela e ambos puxaram o urso, que não estava a perceber que a conversa era apenas entre o texugo e o burro.

Já a sós, o texugo entregou uma encomenda ao seu amigo. “A codorniz pediu-me que te entregasse isto.”

O burro, surpreendido, aceitou o pequeno pacote e abriu-o. As suas bochechas ficaram muito, muito vermelhas.

Longe dali, três cabeças espreitavam por detrás de uma árvore.

“O que é que ele tem na mão?” Perguntou o ratinho, curioso.

“É uma fotografia de alguém!” Esclareceu a lebre.

“Eu não sei quem é, mas parece-me bastante burra.” Disse o urso em tom de brincadeira.

Os três riram-se e o texugo apercebeu-se. “”Amigos, vá lá, a codorniz pediu discrição.”

O burro disse-lhes que não havia problema e se podiam aproximar. “É apenas uma amiga de longa data.”

“Estás apaixonado! Estás apaixonado!” Brincou a lebre.

O burro ficou de novo corado. “Eu? Não estou nada. Ela é só simpática, querida…, quer dizer, é normal. Normal…”

“Então porque é que estás a corar? Até perdeste a tua cor de burro quando foge.”, brincou o urso-pardo, revelando-se o mais brincalhão do grupo.

Todos se riram. O burro esforçou-se para se manter sério, mas acabou por soltar uma gargalhada.

“Isso é porque está muito calor.” Justificou ele, em vão.

“Não tens de explicar, nada, não te preocupes.” Acrescentou o texugo.

O burro nem o ouviu, e começou a falar rapidamente. Precisava de desabafar: “Mas é que… Sim, estou apaixonado. Já há alguns anos. E nunca tive coragem de lhe dizer. E depois ela mudou-se para longe e nunca mais a vi. E agora a codorniz deve tê-la conhecido… E agora, o que é que faço? Está aqui a morada. Vou ter com ela?”

“SIM!” Respondem os quatro amigos, interrompendo o monólogo do burro-mirandês.

“Faz sempre o que o teu coração mandar.” Aconselhou o texugo.

O burro-mirandês encheu-se de coragem, despediu-se dos amigos com beijos e abraços e, muito feliz, partiu ao encontro do seu amor de longa data.

Os quatro amigos partiram também, para chegaram finalmente à festa do papa-figos.

Pelo caminho, descobriram um atalho, e acabaram por lá chegar mesmo à hora marcada.

A celebração tinha lugar numa grande planície por onde passava um lindo riacho, o local perfeito para celebrar um aniversário. Lá, cumprimentaram o lagarto, o flamingo, a raposa e muitos outros amigos que já não viam há meses.

O que rapidamente perceberam é que o papa-figos não se encontrava ali. Teria ele faltado à sua própria festa de anos?
Ouviam-se rumores, todos inventavam histórias mirabolantes sobre o mistério.

O que achas que terá acontecido? Onde estará o papa-figos? Será que se perdeu? Não percas as aventuras dos teus amigos da floresta, aqui no blog, já em outubro!

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